terça-feira, 28 de dezembro de 2010

fechado para balanço

eu brindei. eu bebi, ri, beijei, chorei, terminei um namoro, fiz ligações, fiquei com pessoas, entrei no pré-vestibular, estudei, perdi tempo na internet, escrevi, toquei violão, compus, cantei muito, fiz piadas, fiz novos amigos, conheci pessoas incríveis, comprei roupas e sapatos, vi filmes, ouvi discos, aprendi mais, deixei meu cabelo crescer, corri, andei devagar, fui assaltada, comi comidas diferentes, gastei dinheiro, usei MUITO MAIS o meu cartão de crédito, peguei ônibus, tomei Sol, tomei chuva, quebrei uma sandália, cozinhei, dormi, abracei amigos, assisti aulas, entendi assuntos desconhecidos, briguei, gritei, bati o pé, me impus e conquistei respeito e confiança, me apaixonei, ganhei presentes, dei presentes, pintei o cabelo várias vezes, fui à praia, fui ao cinema, fui ao shopping, namorei, me declarei, caí, machuquei meu corpo e - por várias vezes - minha alma, acreditei, tive fé, rezei, li, me emocionei, arrumei coisas que precisavam ser arrumadas, consolei muita gente, dei conselhos, indiquei autores, me expressei, fui à festas, amanheci dias fazendo qualquer outra coisa que não dormindo, me irritei, gritei e gritei e gritei, fotografei, registrei imagens e sons e sabores e sensações na minhas lembranças. eu vivi. e vivi porque tudo que eu fui esse ano, eu realmente quis ser.

so, this is the new year ♫
[death cab for cutie]


à todos frequentadores dessa
selva disfarçada em palavras;
deixo os sinceros agradecimentos
por mais um ano de Musa Híbrida
[talvez o mais feliz e melhor escrito deles.]
FELIZ ANO NOVO!
e até as próximas experiências

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

um, dois, três e já

Doi ouvir certas palavras tuas, apenas porque elas não soam a mim ao mesmo tom que soam a você. Se você entendesse o quão fundo toca a minha alma esse teu riso tão indiferente; essa teu desprezo pelo meu desespero idiota. Ou então me explica qual parte exatamente é brincadeira porque entrei nisso achando que talvez você me levaria a sério. É, entrei nisso séria demais ...


amo você
amo você
talvez não seja o certo
amo você
demais
Otto ~ Dias de Janeiro ♪

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

primeira carta: rei de espadas

regra nº 1: não há regras.

Nossas cartas estão na mesa e eu ainda continuo tentando entender qual foi o jogo que você escolheu pra jogar comigo.
Sabe, menino, eu não sou muito boa com raciocínios e você - que insiste em me mapear quase inteira e continua me decifrando com a ponta dos dedos - sabe bem que eu acredito fácil em um blefe qualquer; fica difícil pensar em uma jogada quando você me olha desse jeito e começa a tocar meus pés com os teus. O que me surpreende, no final das contas, é esta partida recomeçar e recomeçar sempre que você quer que assim seja. Não é justo; eu não sei como funciona e você sempre tem tudo em mãos (é, eu sei, é engraçado ser "meu controlador"). Mas, já ganhou tanto de mim; eu não queria perder mais nada pra você. Quem sabe se você me ensinasse tuas regras, eu soubesse onde esta brincadeira iria parar ... Ao menos me deixa ganhar da próxima vez?


eu não quero ganhar. eu quero chegar junto, sem perder. eu quero 1x1 com você {...} me ensina a fazer canção com você, em dois. pouco a pouco, me perder ganhar você {...} esse jogo não vai acabar ... é bom de se jogar: nós dois, um a um. ♫

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

invencíveis ou retratos de 2010

Para mim, isso soa quase como um fechamento de ciclos. Tudo bem que ainda estamos no dia 3 e que até falta um certo tempo pra todas aquelas datas festivas; mas há que eu preciso deixar claro certas coisas que creio eu não terem ficado tão vísiveis assim. Enfim, 2010 começou muito digno para mim. Eu havia feio milhões de decisões e estava confiante de que, de fato, seria um bom ano. Assim, tudo pra mim estava a começar dia 3 de fevereiro. Meu início, entrada no pré-vestibular, sonho com a UFBA, pessoas novas e tudo novo. Passo a passo, fui montando meus objetivos e construindo o que eu realmente queria pra esse ano novo, até então. Tá certo que alguns planos fugiram um pouco do meu controle e do meu real planejamento sobre eles, mas há aquela certeza determinada de que NADA foi em vão: 2010, sem dúvida, foi o melhor ano. Eu não devo essa vitória exclusivamente a mim, mas principalmente pelas pessoas que passaram a habitar - quase que cronologicamente - meu coditiano. Minhas pessoas, sem vocês eu não conseguiria! Queria poder abraçar cada um e dizer o tanto tanto que eu gosto de vocês. Infelizmente, alguns trilharão caminhos completamente diferentes dos meus e talvez fique apenas a lembrança de um ano cheio de correria e trabalho árduo, porém feliz; eu manterei vivo esse pensamento em vocês.

pela ordem dos fatos ...
Rafael Amorim: meu anjo! Obrigada por ter me acalmado quando precisei; saiba que, sem teu apoio, eu não seria capaz de continuar minha trajetória apenas por medo. Você é muito especial pra mim - nunca esqueça disso - e nós nos veremos na UNEB (se Deus quiser).

Alan Cavalcanti: meu argentino querido! Nem preciso dizer o quão especial você é pra mim, não é? Por tudo que passamos juntos, pelas conversas, pelos conselhos, pelos recados, pelos textos, por você ter enxugado minhas lágrimas tantas vezes ... Enfim, por absolutamente tudo que você fez/faz e, espero eu, continuará fazendo por mim: obrigada.

Carlos Alberto: Karlinhooooows, meu insuportável! Vou brigar contigo mil vezes, vou rir de você mil vezes, vou te dar respostas absurdas mil vezes e mil vezes vou agradecer a Deus por ter colocado você e tua palhaçada pra alegrar meus dias.

Fábio Rocha: Gary, minha pessoa linda! Tua tranquilidade transmitiu-se pra mim quase que espontaneamente. Ainda vou agradecer a você por ter tanta paciência, atenção, generosidade e carinho comigo. Tu sabe que é verdade quando digo: eu te gosto demais. Valeu pelo apoio, pela força, por dizer sempre o que eu preciso ouvir e ninguém diz e - claro - por todas as brincadeiras que me renderam muitas, mas muitas risadas. E aí, você vem sempre aqui? x)

Victor Monteiro: meu Tinho da Banana! Nunca fomos tão próximos mas tu me disse algo recentemente que nunca vou esquecer. Torço por você, pela realização do teu sonho, pelo teu futuro inteiro. E que venham muitas bananas pra você nos oferecer! :p

Fabrícia Alves: minha bebê! O que eu teria feito da minha vida esse ano sem você? Deus colocou um anjo de bondade pra mim, que me escuta, aconselha, dá colo quando quero chorar no meio da aula e ainda me ensina matemática! O que fiz pra merecer uma pessoa linda dessas? Enfim, você sabe que farei um tudo bem grande pra manter essa amizade sólida que construí contigo. Você sabe de tudo sobre mim, meus segredos, meus amores, minha vida inteira em dez meses. Como posso agradecer por você existir na minha vida? Te amo, amiga (e digo com toda felicidade: foi a minha melhor este ano).

Mariane Rezende: minha bonequinha! Uma menina fofa, meiga, com um ar infantil lindo que só fez nos divertir sempre. Saiba que tu foi o motivo de muitas das nossas alegrias e que estamos torcendo pelos seus coelhinhos, cachorrinhos, gatinhos e todos os animais que tu, competentemente, irá cuidar. Ainda espero ouvir muito dos teus gritos estéricos ao atravessar a rua, viu? Não cresça não - a gente gosta de você bem assim.

Anna Andrade: minha gigante (com toda a ironia da palavra)! Como pode existir alguém tão pequena mas com uma alegria tão enorme dentro de si? Confesso que às vezes você me assusta muito, mas se você não fosse exatamente assim, a gente não iria te gostar tanto, não é mesmo? Enfim, continue, com teu "charme micro" (Pedrinho me perdoe o plágio) a fazer comentários absurdos, a fazer todo mundo rir de você caindo da cadeira e - claro - rabiscar os cadernos alheios durante a aula.

Raíza Couto: minha doutora! Tua dedicação e aplicação me inspiram, sabia? Vou torcer sempre pelo teu sucesso porque você será a médica linda dos meus filhos e, sem dúvida, uma das melhores desse país. Entretanto, ainda vou rir quando lembrar do teu desespero por ter perdido o ônibus e sair correndo; depois me encontrar dizendo que era outro ônibus pra outra cidade. Enfim ... teu futuro será lindo e eu me emociono com isto.

Tatiany Brito: minha mineira! Te conheci quase que por acaso; você e esse teu sotaque lindo, teu grito no meio da sala me chamando de "delícia" ficarão gravados no meu coração. Nunca esqueça que eu quero te ver sorrir sempre, viu?

Thaís Alves: minha fênix! Me entristece o contexto sobre o qual nos aproximamos, mas não me arrependo nem um pouco de ter seguido minha intuição e de ter buscado teu bem estar. Hoje sou mais feliz, porque além de uma amiga, tenho uma colega escritora! Tudo renascerá mais belo, meu bem; tu deve lembrar sempre disso.

Manuella Lessa: minha gata! Tudo bem que você manguea curso, ignora o fato de ir lá pra me ver e que a gente se conhece há pouco tempo, mas o santo bateu. E aí? Quem vai ser contra aos planos que Deus faz? Obrigada pelo pouco tudo (pelo tempo) e pelo muito tudo (pra mim). E repito: você é de exatas, mas eu te perdoo fácil. x)

Artur Mota: meu amor! Por último, mas nem por isso menos importante. Porque será que te conheci depois de ter conhecido esse povo tão louco? Nem tenho palavras pra explicar a mágica incrível que você fez na minha vida. Você me deu força de vontade, incentivo, me fez descobrir o que eu realmente queria pro meu futuro; você me fazia levantar todas as manhãs - com todo sono do mundo - mas com toda disposição porque eu sabia que você estaria lá. Você é o responsável por muitas das minhas conquistas este ano e eu enfrentaria o mundo inteiro pra te ter do meu lado, nem que fosse por um segundo. Agora estaremos mais afastados, mas - no que depender de mim - nosso namoro só vai seguir firme e por muito tempo. Você é a pessoa mais especial que eu poderia ter encontrado; e que bom que foi por você que eu me apaixonei perdidamente. Meu gordo, tu nem imagina o quanto eu preciso de você ... E todas aquelas coisas sobre teu futuro e teu sucesso, você sabe mais do que ninguém que eu sou quem mais deseja que você seja feliz, realizado e completo (e, de preferência, isso tudo comigo xD). Sou feliz com você como nunca fui; eu não te trocaria por nada! E é como eu sempre digo: se eu fosse você, eu ficava comigo pra sempre. Eu te amo muito.























- Nossas vitórias estaram interligadas por muito tempo e eu estou aqui, apertando este laço que nos une. E hoje, nós podemos verdadeiramente dizer: juntos, somos INVENCÍVEIS.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

e das provas, o que aprendi

a vida é como uma questão de cinco proposições da UFBA:
errar duas vezes é fatal; é zerar a questão.
errar é anular o que você fez de correto.
estão aqui para contar os teus erros.
erre menos.



"leve para longe de minha boca
esse gosto podre de fracasso,
de derrota sem nobreza.
"


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

fênix

dedicado à Thaís Alves


Um certo dia, te vi bonita entre os outros, mas era tão bonita que meu sentimento de insignificância não me permitia aproximação. Algo no jeito que voava, que transbordava felicidade, que se relacionava com as outras aves me deixava a imaginar como um pássaro desses é raro. Enfim, eu sei que muitas vezes observei teu nicho; ao mesmo tempo que me intimidava, me dava coragem de ir atrás.
Então, um dia, eu te vi pegando fogo. Não podia crer: uma ave linda, vistosa e feliz estava ali, entrando em combustão espontânea bem diante de mim. As chamas aumentaram e brotou em mim uma força, fazendo-me cessar o fogo. Calma e paciente, observei as cinzas ainda quentes e esperei até poder tocar. Surpresa, ao quase tocar nas tuas cinzas, eis que você renasceu ali, mais bonita do que eu costumava lembrar. Você estava se refazendo aos poucos e, embora inacreditável, era este o meu desejo desde o princípio. Só depois pude entender que vocês - as fênix - quando atingem um grau máximo de experiência, necessitam ser consumidas pelas chamas e aí, sim, florecem ainda mais lindas, mais vistosas, mais felizes! E foi assim que me aproximei mais e não te deixei sozinha; quando você precisar se reciclar novamente, estarei aqui pra amparar.

Thaís, eu confio na tua capacidade de se reinventar. Não te deixarei desamparada enquanto puder e pode ter certeza: ainda há muito o que se viver. Avante, amiga!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

closer

Há algo que sempre me faz voltar. Eu já tive demais deste desfile, mas vou voltar ao início, como se nada tivesse saído do seu lugar. Passo a passo, eu refaço o sinuoso caminho; vejo as mesmas cores - agora já quase desbotadas - que insistem em colorir a travessia. E eu já sei essa direção de có, não continuo a cair nos mesmos buracos e nem a entrar nas mesmas armadilhas; talvez se pegasse um atalho, o fim seria outro. Medo não é uma palavra que costumo usar (por isso eu deixei os sapatos em casa), mas é que eu não suportaria me perder de novo. Por isso vou sem pressa, por isso demoro tanto a chegar. Uma nova chance é diferente, embora sempre seja a mesma. Mas ninguém sabe. Ninguém sabe. Eu poderia andar por aqui a vida inteira, se preciso fosse. Sozinha até a chegada, você me esperaria no pódio portando as tais rosas vermelhas e uma garrafa do meu vinho favorito. Sabe, de fato, talvez nada tenha mudado. Talvez esse sonho só precise ser despertar (ou, quem sabe, dormir definitivamente). Me deixa caminhar em paz e eu lhe conto a viagem, no final.


I'll never leave you:
just need to get closer
- closer -
lean on me now ...


sábado, 20 de novembro de 2010

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

coração vagabundo

Meu coração é massinha de modelar bem vagabunda. Distrai-se facilmente, se contenta com pouco. Alimenta-se de migalhas e recusa sobremesa porque finge que se satisfaz. Mas é belo, é quase dissimulado.Meu coração é criança desprotegida brincando na chuva. É bailarina que tropeça no último passo do Quebra Nozes. É pianista cego, é violonista sem os braços, é marinheiro náufrago ... Meu coração sempre se adequa às mãos de quem o modela mas descama, solta tinta, intoxica quem se atreve a esculpí-lo; porque meu coração pertence a quem o aconchega, não distingue o certo do errado, não vê culpa em sua ingenuidade. Meu coração só quer ser feliz com quem quer fazê-lo feliz. Mas meu coração é teimosia, é mimo, é cabeça-dura, é intransigência e quase briga. Porque ele acredita, porque não aceita o que lhe é imposto. Meu coração é das palavras, das onomatopéias, das hipérboles e das sinestesias; mas - principalmente - do carinho. Meu coração é de quem se habilita. Perdoa: meu coração é de quem o enxerga - e de quem ele enxargar também. Meu coração esquece quem não está presente e se entrega ao primeiro sorriso malicioso que identifica. Meu coração, massinha de modelar BEM vagabunda, sempre retorna à caixa maior. Meu coração não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo que quer.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

chuva

Eu quis ir embora. Poder andar com passos firmes, seguros, sem a hesitação de olhar pra trás dejesando que você tivesse me seguindo, que parasse meu andar, que me fizesse mudar de ideia. Eu quis olhar teus olhos, mas minhas lágrimas embaçavam os meus - já totalmente desfeita, não podia deixar que você me visse naquele estado. Eu quis conseguir falar. Conseguir cuspir na tua cara tudo aquilo que eu sinto, o que me incomoda, ter a coragem de verbalizar aquilo que só meus dedos - envoltos à lápis - permitem expressar ao papel manchado às lágrimas que ainda caíam. Eu quis muito traduzir teus sentimentos. Mas eu quis - mais que tudo - não gostar de você assim. Eu quis arrancar isso de dentro de mim; eu quis desesperadamente ser indiferente ao teu sorriso, à tua presença. Te dar adeus sem culpa alguma, não esperar tua chamada na madrugada, não arrumar a casa pra receber tua visita. Eu quis não gostar. Eu só quis me salvar disso que eu chamo de amor.

domingo, 24 de outubro de 2010

sem açúcar

Empurrou a pesada porta da pequena cafeteria e teve certeza de que não saíria dali do mesmo jeito que entrou. Dirigia havia horas e a próxima cidade não estava tão próxima assim. Decidiu por parar, comer, se embreagar talvez e ficar ali até criar coragem pra voltar à sua estrada. Lembrou-se, então, do que ele lhe falara uma vez: "É, eu trabalho lá"; teve vontade de ligar, dizer "ei, eu estou aqui embaixo, vem me abraçar" mas - como sempre - lhe faltou coragem. Finalmente escolheu o que queria e esperou, debruçada no balcão, alguém lhe atender. Alguns minutos depois, surgiu um rapaz atordoado, cabeça baixa, apressado e confuso mas que percebeu a presença dela ali.

- Um café, por favor.

Ele parou. Se aquele lugar não estivesse tão cheio, todos poderiam ouvir as batidas do coração do rapaz acelerarem a medida em que ele erguia os olhos; queria ter certeza de que essa voz era dela. Cuidadosamente, como quem escolhe os lugares pra pisar entre as poças d'águas depois de um dia muito chuvoso, ele a olhou. Era ela. Ela estava ali, do outro lado do balcão. Então, as lembranças foram aos poucos invadindo a sua mente; ele só queria poder estar sozinho com ela ali, queria que fosse tarde, queria poder expulsar todos os clientes e apenas atender os pedidos da moça. Ele quis pular o balcão, se atirar aos braços dela, beijá-la como nunca teve coragem de fazer, levá-la pra longe dali e viver assim pra sempre. O rapaz esboçou um sorriso, que foi respondido por ela. Olhou-a novamente; não podia acreditar que era ela ali! Não proferiu uma palavra; ela também só conseguira dizer "oi". Eles dois não precisavam falar nada porque se entendiam sempre pelos olhos.
Precisou apenas de poucos segundos pra sentir tudo isso e de alguns mais pra voltar à realidade. Lembrou-se do que ela pedira: "um café"; e ele sabia como a servir. Entrou na cozinha e voltou, minutos depois, com uma xícara pequena e branca, metade preenchida com café preto sem açúcar e a outra, chantily até o topo. Ainda quis colocar uma cereja; precisava que ela entendesse que ele não havia esquecido nada, muito menos da cor dos cabelos dela. Entregou a xícara a moça e sorriu de novo. "Preto, sem açúcar, chantily até o topo; como você gosta.". Ela sorriu, agradecida, e dediciu que já era hora de ir; mudanças demais pra apenas uns segundos. Tomou todo café ali, repousou a xícara sobre o balcão, limpou a boca com os últimos guardanapos.

- Obrigada.

Ele ainda escolheu observar cada passo que ela dava em direção ao próprio destino. Melhor assim. Eles se entediam sempre com o olhar e ele sabia: ela não estava indo embora.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

sunday morning

Há dias em que a gente acorda pensando em parar. O plano era exatamente não ter plano algum. Todas aquelas cores convidavam à loucura, todas tão fortes e quentes; eu estava ali pronta pra escapar prum lugar qualquer. Eis que decide mudar o meu dia: eu desesperada pra fugir; você, pronto pra me acalmar. Eu aceitei uma proposta inocente e lá fomos nós, fazer do domingo de manhã um momento mais libertador. Você estava ali, ao meu lado, satisfazendo as minhas vontades notórias, ouvindo meus desabafos e me dando conselhos cujo eco ainda escuto. Enquanto o mar fazia teu movimento, nós dois refletíamos tanto quanto toda aquela luz. Eu ri, eu vivi, eu fui feliz ali. Você - uma pessoa tão do bem - me fez bem também. É doce poder contar com você cada vez mais, meu amigo. É bom saber que posso lhe confiar alguns segredos puq você vai entender qualquer coisa que eu possa dizer. Ainda que eu tenha total liberdade pra brincar contigo do jeito que eu quero; tudo que lhe escrevo agora é muito sério. Quero mesmo é agradecer por você realizar meus desejos, por me ouvir, por não ter me deixado sozinha. Acredite quando digo que estarei aqui quando você precisar. Mais uma vez: obrigada. Seja lá o que for pra ser, eu serei. Nós seremos.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

convite

Quis entender as entrelinhas do teu convite. Em outras circunstâncias, eu teria o aceitado. Mas tuas escolhas transformaram você nessa pessoa indecisa que me propõe convites fora de época. Eu aceitaria, no passado

domingo, 3 de outubro de 2010

o circo

um certo dia a cidade amanheceu empacotada
cartazes por todo lado; o circo está armado
inúmeros bichos numerados
comprem suas entradas que o show vai começar!

respeitável público, o sorriso na boca do palhaço
onde o tempo que passa é atraso
a miséria enche o prato
escambo barato
o povo descalço com votos sapatos
e de quatro em quatro anos o mesmo espetáculo

aperta a mão que eu te dou um doce
aperta a mão que eu te dou um doce
são poses promessas e beijos na testa

cadeiras compradas, ingressos na mão
o sorriso na boca do palhaço é o sorriso na boca do leão
não bota a mão não; que morde!
e o povo de olhos vendados no globo da morte

código de barra e cara lavada
pintada com faces multicoloridas
o rufado da caixa anuncia a nova acrobacia
e revela o momento que a corda rompia
mas tudo é combinado
faz parte do espetáculo
truque ilusionista
abracadabra e você no meio do picadeiro
servindo de isca

aperta a mão que eu te dou um doce
aperta a mão que eu te dou um doce
são poses promessas e beijos na testa

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

primaveras

eu vivo um sonho (um sonho que não é meu) e o meu casaco preto tá perdendo a cor. talvez eu seja uma criança mimada com medo de ficar sozinha porque você me trocou por caras novas e um abraço um pouco mais apertado. onde estão aquelas rosas que eu te dei de coração? o último ato do cavaleiro romântico (cansado, cansado).
talvez seja a precaução do parecer. talvez eu deva ir pra bem longe de você; onde o vento frio e quente da primavera sempre volta. eu sobrevivo ... ou não.
minha criança, por que choras? se as lágrimas vão mesmo secar:
grite, grite, grite mas grite baixo.
é tudo culpa da prisão, do claustro, do dia errado, da música que nós paramos de cantar.
eu tava calmo, eu tava quieto, eu tava guardado no meu canto trocando teorias com anjos. eu tenho fome, eu tenho pressa, eu tenho o álcool mas o que me interessa são as memórias que eu quero esquecer: corpos pegando fogo, dois gritos e um estouro (é, lembrei de você). completa indiferença, acho que é a sentença. ah, cansei de você!
talvez seja a precaução do parecer (quanta arrogância!). talvez eu deva ir pra bem longe de você. onde o vento frio e quente da primavera sempre volta. eu sobrevivo! eu sobrevivo. ou não.

minha criança, por que chora?
se as lágrimas vão mesmo secar:
grite, grite, grite!










... mas grite baixo.

é tudo culpa da prisão, do claustro, do dia errado, da música que nós paramos de cantar.
da música que nós paramos de cantar.
da música que nós paramos de cantar.

domingo, 19 de setembro de 2010

nós parecíamos gigantes

Deus abençôe a luz do dia, o doce cheiro da primavera me fazendo lembrar de quando você era minha, numa cidade até então suburbana. Quando toda quinta-feira eu percorria as trilhas nas montanhas, você perdia as primeiras aulas e nós aprendiamos como nossos corpos funcionam.
Deus amaldiçoe a noite escura, com todas as suas tentações; eu me tornei o que sempre odiei quando estava com você. Nós pareciamos gigantes atrás da minha kitinete cinz, nos tocando para manter contato enquanto os outros estavam dormindo lá dentro.
E juntos lá - num abrigo contra o frio e o ar da montanha que começou a passar através de todo vidro contra tempestade - eu te segurei mais perto do que qualquer outro chegaria.
Você se lembra do JAMC? De nós lendo as revistas em voz alta?
Eu não sei você, mas eu juro pelo meu nome (eles podem ver no meu rosto): eu nunca fui muito bom com segredos não ...
E juntos lá, num abrigo contra o frio e o ar da montanha que começou a passar através de todo vidro contra tempestade. E eu te segurei mais perto ...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

3

3 meses:
- olhando os mesmos olhos
- beijando a mesma boca
- me encaixando no mesmo abraço
- ouvindo a mesma voz
- escrevendo textos pro mesmo "você-lírico"
- amando a mesma pessoa.

e daí? é bem assim que eu quero.
e cá entre nós:
como é doce estar apaixonada

domingo, 12 de setembro de 2010

deixe a menina

por trás de um homem triste, há sempre uma mulher feliz
e - atrás dessa mulher - mil homens, sempre tão gentis
por isso, para o seu bem: ou tire ela da cabeça
ou mereça a moça que você tem!

retrato em branco e preto

já conheço os passos dessa estrada, sei que não vai dar em nada, seus segredos sei de cor. já conheço as pedras do caminho e sei também que ali, sozinho, eu vou ficar tanto pior. o que é que eu posso contra o encanto desse amor que eu nego tanto, evito tanto e que, no entanto, volta sempre a enfeitiçar? com seus mesmos tristes velhos fatos que, num álbum de retratos,
Eu teimo em colecionar

Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Outra vez ...
Perdi as contas de quantas vezes vi esse final - e também de quantas vezes prometi a mim mesmo que não aconteceria outra vez. De, entre lágrimas, cantar os mesmos refrões e implorar a Deus um acelerador de tempo. Aconteceu. Porque eu sou um idiota credor de quase-palavras; porque você me liga dizendo que vem e eu acredito que você virá. Preparei teu jantar favorito, comprei duas garrafas do melhor vinho, coloquei Chico a cantar na vitrola ... Até lavei a camisa rosa pra usar. A maldita camisa rosa, a que vestia meu corpo no dia que te vi naquela livraria. Maldita livraria! Esquece, essa camisa tá começando a me fazer suar. Como você fazia, só pelo modo de me olhar. Pus o vinho pra gelar, preparei o jantar com as minhas próprias mãos! Peixe e batatas, lembra? Eu lembro. Temperei o maldito peixe e cozinhei as malditas batatas; amaldiçoei todo meu apartamento com esse cheiro terrível que impregnou na minha cozinha pra te surpreender e você?! Você me disse "chego às 21h" e eu corri pra deixar tudo pronto. Deixei tudo, tudo pronto, às 20:56h. Tomei banho, me perfumei, passei a camisa rosa e te esperei. 21h. 22h. 23h. 24h. 01h. 02h. 03h. 04h. Não sei se você veio; finalmente peguei no sono às 4h. Não suportei te esperar. Bebi o vinho todo de uma das garrafas, comi um pouco do que preparei pra não sentir a ressaca - mas eu ainda iria acordar mal; nada me tiraria a culpa de ter acreditado em você outra vez. Te esperei sentado no tapete da sala. Te esperei na cozinha. Te esperei no quarto. Te esperei deitado na cama, chorando tudo outra vez. Fui dormir tarde, indisposto, quase bêbado e infeliz. Acordei depois do meio dia; por que tinham tantas chamadas não atendidas tuas no meu telefone? Não sei pra que caí na besteira de atender uma das ligações. "Me preocupei; te liguei tanto e tu não me atendeu. Posso ir aí?" e o que eu respondo? Pode. Venha. Estou te esperando. Mas devo logo adiantar: o apartamento tá uma bagunça, dei pros gatos da rua o resto da comida, bebi a outra garrafa de vinho sozinho e não estou usando a maldita camisa rosa. Você não vai me encontrar como queria; nem eu quero te encontrar como queria.

sábado, 4 de setembro de 2010

pra você; a minha melhor parte

Se ao menos eu conseguisse discorrer simples a respeito do título e traçar todos os meus verbetes ao redor desse; mas sei que, no final, darei mil voltas até chegar ao centro e finalmente, retornarei ao ponto ao qual tudo começa com uma caixa de texto em branco. Puq com você, não é a tristeza a me tornar boa escritora; nem são minhas lágrimas as donas do que escrevo.
Pensando bem, eu nunca soube lidar com essas coisas. Nunca treinei minhas palavras para isto que eu chamo "felicidade". Nunca - NUNCA - imaginei poder existir alguém capaz de me fazer feliz apenas no modo com o qual sorri. Por isso não sei o que dizer, por isso meu campo de batalha - tão usado outrora - hoje está quase vazio, sem munição alguma. Mas não por você não merecer e sim exatamente pelo contrário: puq merece tanto que eu sequer entendo a dimensão de "tanto" quando o pronuncio.
Assim, não preciso chamar-lhe a atenção falando sobre como me fez sofrer. Não sofro. Só sou feliz; eu só sei ser feliz agora. Você reacende e restaura e recria e mantém tudo que há de mais bonito em mim: a parte que sorri tranquila, que te beija sem aflição e que sonha todas as noites com o mesmo rosto. Pra você; a minha melhor parte. E eu o amo!

8 lugares pra beijar você

- no tapete de entrada do divino sabor
- no alto da torre Eiffel
- no coliseu
- na minha sala de estar
- num shopping
- na beira de uma praia
-
- no infinito.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

parr-à-pluie


je te tiens chaudement.
c'est mieux, n'est-ce pas?
et au dehors il fait froid.
pourquoi tu pars?





Saindo desprotegida: sem acessórios, de pés descalços, com cabelos ao vento, quase cega pela luz do Sol. Dias tão coloridos que poderiam despertar a inveja de Frida. Acreditando, assim, que tudo está sendo feito para dar certo. Sem guarda-chuva. Não há com o que se preocupar. Péspouco tangentes à terra; levitar é a vontade. E o tempo vira - o doce azul celeste cede lugar a um tom quase negro; os sentidos se preparam e então escuto o primeiro trovão, seguido da água. Não era para isso que eu estava preparada, aliás, sequer sei se estava preparada para algo. A tentativa de correr é facilmente frustrada; ruas molhadas são mais perigosas que a própria frustração. Despertar do sonho é a ordem. Meus pés fixos à lama tentam livrar-se da chuva. Chegar em casa, encharcada de lágrimas do céu; já com frio. Trocam-se os tempos e as roupas molhadas, mas não o sentimento de estiagem o qual deveria prevalecer. E jogar-me no tapete da sala de estar e esconder-me num cobertor quente perto da lareira da minha sala de estar não vai me secar das gotas que já alcançaram meu corpo, minha alma. Daqui vou observar cada pingo cair como uma bomba de Hiroshima, mais mortal ao meu coração que qualquer radiação, e fingir que reconheço a beleza em toda tristeza habitada em chover. Viver ao Sol e molhar-me de repente? Não prefiro assim. Nunca me preparei para a chuva e desejo estar seca quando você pensar em partir.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

sobre pequenas perguntas (e respostas incomensuráveis)

- amor?
- oi.
- você me ama?
- claro que amo ... e amo muito!
- como você sabe?
- do que?
- que é amor, como você sabe?
- porque eu nunca senti por ninguém o que estou sentindo por você agora.


sem mais perguntas

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

parr-à-pluie

se encontraram, se abraçaram como antes, ouviram a mesma música.
ele estava fisicamente ali: seu corpo junto ao dela, suas mãos na cintura dela e sua boca selada, sem sorrisos, e os olhos mais perdidos que os pensamentos. a sua mente era distante. era longe. Japão, talvez. e ela percebeu; fingiu ignorar mas não podia consentir àquela situação. ele estava ali, mas ele não estava ali.
se despediram, não se abraçaram como antes, a música acabara.

se reencontraram, se abraçaram como nunca, não havia música.
percorreram todo o caminho sem dar uma palavra ou um olhar.

sábado, 24 de julho de 2010

ciclo, um plágio

escrevo pouco enquanto te vivo
- porque sou feliz, porque estou em paz -
apenas a inquietação me envolve em letras
e só o meu coração
- quando em batedeira ou liquidificador -
dá cadência e tom ao que eu já não sei dizer.
escrevo só se não sei dizer, aliás ...


Artur Mota, a razão de tudo.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

meu

E é algo muito forte. Eu conto os minutos pra estar contigo. E quando eu finalmente te enxergo de longe, o meu coração grita, a minha respiração enfraquece. Você me vê, me espera chegar bem perto, levanta, me abraça forte forte forte, me beija um beijo tranquilo e me diz "bom dia, amor" ... Não sei, parece que me derreto nos teus braços. Às vezes me belisco, poderia estar sonhando. Mas você é real; você é real e é meu! E todos os dias seriam assim: te abraçar, te beijar, tocar cuidadosamente o teu rosto quente escondido sob a barba por fazer, me despedir com um certo aperto, gravar todas aquelas imagens na minha memória, roubar os perfumes alheios na procura do teu e ir dormir sentindo a tua presença cada vez mais forte em todos os meus pensamentos. Eu desejaria isso a vida inteira; apenas me perder nos teus sorrisos bonitos, segurar tua mão e sair por aí, à tua guia, como quem não quer voltar, como quem já tem tudo o que sempre precisou. Como alguém como eu possuindo alguém como você.

Você me diz "eu amo você".
E eu te respondo - sem
nenhum arrependimento:
- SIM, MEU AMOR.




sexta-feira, 9 de julho de 2010

insônia

Abri meus olhos, mas era como se eu não tivesse aberto. Depois de uma longa noite lutando contra insônia, um breve sonho permeava minha mente. Não consegui decifrá-lo. De repente uma mulher, jovem e bela, de cabelos vermelhos, olhos castanhos e profundos (lindos olhos por sinal), branca e magra, vestida com um longo vestido de cor negra erguia seus braços em minha direção. Eu estava atônito, totalmente perplexo, mas aquilo me trazia uma paz incondicionalmente grande que nem eu sei explicar. Tive a impressão de já ter visto essa mulher em algum lugar, talvez até no meu subconsciente ou em outros sonhos. Sentia uma energia positiva vinda dela, uma energia que jamais teria sentido outra vez e muito menos sentira antes. Quando dei por mim já estava em seus braços e não queria mais sair daquele lugar. Numa tentativa frustrada de sair, acordei, era como se eu não tivesse acordado.
Levantei-me, abri a janela e um lindo dia me esperava. Ouvia pela janela o silêncio ensurdecedor daquela manhã, acompanhado de um ofuscante brilho do sol matinal. Mas uma coisa estranha mudara aquele dia: ele estava mais vermelho do que normalmente, símbolo da mulher misteriosa dos meus sonhos e de sua grande madeixa arruivada. Após tomar meu café da manhã respirei fundo para encarar mais um dia de minha monótona vida. Esse dia prometia fortes emoções.
Voltando a velha rotina: transporte, trabalho, cobrança, almoço, trabalho, bate-papo com os amigos e volta pra casa. Estava ansioso para reencontrar aquela mulher dos meus sonhos, certamente iria sonhar com ela novamente. Mesmo atolado de trabalhos fiz um esforço para tentar dormir mais cedo pois cada momento com ela era como se eu estivesse em paz comigo e com o mundo (até esquecer-lo totalmente em minha ilusão).
Deitei em minha cama, fechei os olhos, mas era como se ele estivessem abertos o dia todo pois não parei de pensar nela sequer um momento e isso ia me consumindo de uma maneira surreal. Antes do reencontro encontrei minha companheira fiel de todas as noites: a insônia (minhas olheiras não deixavam mentir). Mudava de posição na cama toda hora na esperança de encontrar a melhor para o encontro, mas nada, todas as tentativas eram em vão. Parecia que ela estava fugindo de mim e isso era estranho pois na noite anterior transparecia que a mulher misteriosa tinha um certo afeto por mim. Quando de repente me encontrei no mesmo local da noite anterior e lá estava ela idêntica a dos meus pensamentos.
Desta vez tomei coragem e cheguei bem perto dela, senti seu aroma das mais cheirosas flores do campo, agradabilíssimo cheiro, que me extasiava. Eu tremia copiosamente, minha mão suava demais, não conseguia falar sequer uma palavra, quando ela veio e falou em um tom harmonioso em meu ouvido:
- Não precisa ficar nervoso, eu sou a união de seus sentimentos e sei tudo que se passa dentro de ti – falou e calou-se logo depois.
- Eu não parei de pensar em você o dia inteiro, o que eu devo fazer para isso parar de acontecer?
- Eu sou a idealização de seus sentimentos e não é fácil me esquecer assim- disse ela em um tom mais ríspido.
- Não sei o que é, mas com você perto de mim eu me sinto em paz.
- Isso acontece quando um homem solitário se encontra com seus sentimentos, é o espaço que a solidão dá para que você busque fugir dela- exclamou.
Eu não queria fugir da solidão, é a minha fiel e confiável companheira, não podia abandoná-la de repente, seria uma grande traição. A solidão é o grande conforto do homem pois quando tudo e todos se vão, lá está ela, do seu lado, a única que não te abandona.
Amanheceu e o primeiro raio de sol do dia iluminou meu bagunçado quarto pela brecha deixada na janela, mas antes de eu acordar, a mulher chegou bem perto de mim, tocou em meu rosto e me deu um leve beijo na testa. Depois disso saiu vagarosamente e se perdeu na grande névoa que pairava no local. Acordei assustado depois do pulo que eu dei da cama e fui me olhar no espelho. No local onde a mulher misteriosa me beijou tinha uma mancha de batom, um batom vermelho vivo da cor de seus cabelos. O contato do real com o imaginário pode assustar, mas ele de fato existe.
A mancha não saíra de jeito nenhum, eu estava desesperado, como iria trabalhar com uma mancha de batom na testa? O que os outros iriam achar de mim? Seria ridicularizado por todos. Tomei meu café e seguiria para a “velha opinião formada sobre tudo”. Fechei a porta e chamei o elevador. Um mal súbito me tomou quando a porta do elevador se abriu: era ELA, a mulher dos meus sonhos, jovem e bela, de cabelos vermelhos, olhos castanhos e profundos (lindos olhos por sinal), branca e magra, vestida com um longo vestido de cor negra. Pasmo e bestificado, fiquei sem reação (acho que nem respirar eu conseguia). A porta já ia se fechando quando ela mesma a segurou. Eu momentaneamente pensei em sair correndo gritando feito um louco, mas não mais de desesperado e sim de felicidade pois encontrei a mulher dos meus sonhos, a que me traz paz e felicidade, a idealização de todos meus sentimentos.
Da mesma forma que eu me sentia feliz uma parte de mim tornava-se vazia, era a parte da solidão, quem eu estava começando a abandonar de fato (perdoe-me pela traição, amiga solidão, preciso fugir da tradição dos poetas sós, sem amor). Ela veio a mim com a mesma delicadeza dos meus sonhos, não me agüentava de felicidade, com um simples movimento tocou seus lábios em minha testa, como no sonho, e foi descendo, beijando a ponta do meu nariz, descendo mais até tocar seus lábios em meus lábios tornando aquele beijo libertador o melhor da minha vida (a daria antes por aquele beijo). O elevador fechou a porta e seguiu para seu destino. Quando abriu a porta novamente uma grande névoa acompanhada com uma luz que cegava os olhos, eu e ela, no mesmo local dos meus sonhos.
Acordei, abri meus olhos, mas era como se eu não tivesse aberto. Descobri onde o contato do real com o imaginário ocorre. Depois disso guardo esse local só pra mim e ela, Mademoiselle, a minha real idealização, minha paz, meu porto seguro (e até hoje não sei se vivo sonhando).



gostou? mas não é meu não, é de Artur Mota

domingo, 4 de julho de 2010

sobre você

Mais uma vez a caixa de texto está aberta e eu não consigo manter uma palavra sobre você. Puq é assim, é assim há semanas. E eu - teimosa como sou - ouso todos os dias algumas linhas sobre teu sorriso, teus olhos, teu jeito singular, sobre como você diz que "nós somos o casal mais fofo daqui" e me abraça e me beija e ajeita meu cabelo e desperta em mim sensações que estavam aprisionadas há tanto tempo. E não consigo, não da maneira com a qual desejo. Puq você, você assim, é tanto que me faltam palavras, orações, frases, períodos inteiros que satisfaçam a condição de "perfeição" a qual você me sujeita. E eu escrevo e apago e recrio e edito e desisto puq não há o que encaixe. Convencida. Conformada. Talvez seja mesmo impossível passar pro papel toda a perfeição que você cria em mim. Bom, fica a tentativa.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

tudo o que eu queria lhe dizer [e mais um pouco]

Mr. Moonlight [ainda que eu concorde ser um ABSURDO TOTAL manter este codinome pra você, será esse o meu vocativo]:

Hoje, voltando pra casa depois de todas aquelas aulas exaustivas mas que eu adoro, eu pensei em você. Não sei exatamente puq, mas pensei [enquanto ouvia o cd novo da Aguilera]. Mas não pensei com mágoa, não. Pensei até de uma forma bem bonita ... Algo tipo futurístico, meio que júpiter encontrando saturno, todos os nossos planos finalmente saídos de um papel de pão velho e convertidos em verdade. Enquanto sorria pra mim mesma, os mesmos pensamentos se foram. Hoje não: não espero que você me ligue de repente num sábado à noite só pra ouvir minha voz ou bata na minha porta no momento exato em que eu for me suicidar. Não espero que tua vida seja um fracasso daqui por diante, que você se arrependa e reconheça que eu sempre estive certa e eu - realmente - não me importo se você vai até o aeroporto me impedir de pegar aquele avião [Casablanca, última cena]. Eu sorri pra mim mesma e concordei, sem deixar escorrer uma lágrima: now, it's really really over. A gente poderia ter sido tão bonito ... Mas este é o ponto fundamental; é justamente isso que nos torna tão bonitos assim, não? A coisa mais bonita, feito dois igual a um; segundo teus planos, num domingo à tarde contar para as crianças "como papai e mamãe sofreram separados por anos, enfrentaram barreiras, tempos, concorrências até finalmente ficarem juntos e seres felizes para sempre". Desculpa, cara: eu JÁ sou feliz pra sempre. E o que é melhor: sem tudo isso. Eu pensei, mas já nem lembro de você. Não quero que enxergue isto com teus olhos julgadores, não. Apenas enxergue. Ou melhor: SINTA. Isto não é pra te atingir, mas pra ME atingir. É apenas pra e por mim. Tuas palavras ainda ecoam, mas já tão distantes que eu quase não as escuto [ou talvez seja a tal voz mais forte que soa tão perto de mim e me impede de continuar te ouvindo]. Discorde, se quiser, mas aquele nosso velho e doentio jogo finalmente acabou e eu não me importo em ser a vencedora desta vez. Okay, nós sempre teremos o porto. Mas você - definivamente - não me tem mais.

e agora, Mercedes? separados, quem somos? somos um programa de televisão que saiu do ar e como ninguém desliga o aparelho de tv, fica aquele chiado incomodando no escuro? somos a lembrança de um beijo que não foi dado? se você não queria ser infeliz comigo, saberá ser infeliz sozinha?


[Musa Híbrida; 04/06/2010]


domingo, 20 de junho de 2010

querido Diego

Como você está, pançudo?
Por que você não me disse que Paris era um pesadelo? Os franceses são os chatos mais pretenciosos do mundo. Prefiro vender tortillas no chão do mercado, em Toluca, a ouvir a tagarelice das vadias artísticas de Paris.
A mostra não despertou o interesse que Breton imaginou. Os artistas mexicanos são apenas uma curiosidade exótica, aqui. Eu me sinto muito solitária e anseio por notícias de casa.
Diego, esta carta é uma mentira. Paris tem sido boa pra mim mas sem você, ela não significa nada. Toda a ira de nossos 12 anos juntos passam por mim e eu concluo que eu o amo mais do que à minha própria pele. Você pode não me amar tanto, mas você me ama um pouco, não é? Se não for verdade, sempre terei esperança de que possa ser. Eu o adoro!


Frida Kahlo ~

segunda-feira, 14 de junho de 2010

com esse "i" que grita

eu gosto de ter um homem dormindo comigo deitando e acordando do meu lado todos os dias, andando na praça de mãos dadas comigo, tomando sorvete, indo ao circo, beijando na boca na sessão de cinema e não de um passageiro que me toma de vez em quando como se eu fosse um táxi, dá uma voltinha e desce na esquina sacudindo as calças.
será que você entende a diferença?

eu não preciso me esconder de ninguém!
(...)
não me chama de meu bem! eu não sou seu bem porque bem a gente não esnoba, não despreza, não joga pela janela. eu sou seu mal, seu veneno! eu não nasci pra me esconder, mas pra me exibir, brilhar feito porpurina. eu nasci pra viver uma paixão. pra viver e pra morrer por ela.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

malemolência

é tudo que eu posso lhe adiantar:
o que é um beijo, se eu posso ter o teu olhar?
cai na dança, cai! vem pra roda ~
da malemolência

sábado, 5 de junho de 2010

o amor me pegou

e eu não descanso enquanto não pegar aquela criatura
saiu na noite à procura; o batidão do meu coração na pista escura
se pego - ui ... me entrego e fui
será que ele quererá? será que ele quer? será que meu sonho influi?
será que meu plano é bom? será que é no tom? será que ele se conclui?
e as gatas extraordinárias que andam nos meios onde ele flui
será que ela evolui? será que ela evolui? e se ele evoluir, será que isso me inclui?
tenho que pegar, tenho que pegar, tenho que pegar essa criatura ~




quinta-feira, 3 de junho de 2010

anotações sobre um amor urbano

no fim desses dias, encontrar você que me sorri, que me abre os braços, que me abençoa e passa a mão na minha cara marcada, na minha cabeça confusa, que me olha no olho e me permite mergulhar no fundo quente da curva do teu ombro. mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços e você me beija e você me aperta e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem ...


#caiofernandoabreu

sábado, 29 de maio de 2010

sem cais

catei colo e o mar parou. fui deitando pra perguntar nome, bairro, amigo, amor, de onde vem parar o mar. seu sorriso bateu aqui, 'inda posso me apaixonar. quero tanto quero tanto quero tanto quero tanto você. mar aberto, mar adentro, mar imenso, mar intenso sem cais. tô com medo, tô com medo, tô com medo, tô com medo de ver que 'inda posso que 'inda posso que 'inda posso ir bem mais.


#caetanovelosofeelings.

sábado, 22 de maio de 2010

a semente

Encontro você em meus caminhos, encontro sementes raras que precisam brotar. Me prontifico a te plantar em meu jardim. Eu te cavo e te molho e te aqueço e te acaricio e espero pra te ver germinar, crescer, florecer. Eu te colherei maduro. E não tenho vergonha de sujar minhas mãos com a terra adubada; eu muito me permito te tocar ainda que assim - bem pequeno. Eu esperarei qualquer tempo pra ver tua árvore posta, pra gravar meu nome à faca entre teus galhos. Desse modo, minha pequena semente talvez se tranforme em minha fruta da estação eterna. A semente de você está em minhas terras e é aqui que ela vai crescer.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

divino pecado

- eu estou tão feliz puq tenho um assunto pra tratar com ele agora!
- e amanhã, qual será o assunto?
- depende de hoje.

dedicado à Fabrícia Alves ~

domingo, 16 de maio de 2010

eu sonho com você

eu sonho com você.
é, eu sonho com você. com você assim não tão cordial, não tão distante. não tão só "bom dia". eu sonho com você vindo ao meu encontro, sussurrando todas aquelas bonitas declarações que eu sempre desejei ouvir de alguém, puxando-me pra perto de si e sentindo cada batida do meu coração pequeno, amedrontado e frágil. eu sonho com você gritando ao mundo o teu amor, com teu sorriso clareando meu dia inteiro de perto e não de longe, não tão distante. eu sonho com você e, nos meus sonhos, nós dois somos um só; o mar embala todas as nossas emoções e você me faz ter certeza do quanto eu sou sua, do quanto minha mente te pertence. eu sonho com você próximo da minha realidade, sabendo o que habita em mim e eu não tenho coragem de deixar sair nem de te fazer perceber; assim: igualzinho a mim.
eu sonho com você e - quando eu acordo - continuo sonhando.




vem cá, menino. menino lindo, vem cá:
você me faz dormir, você me faz sonhar

♪♪

sábado, 8 de maio de 2010

devagar, sua criança louca, você é tão ambicioso para um jovem. mas então se você é tão esperto, me diga porque você ainda tem medo? onde está o fogo? pra que é a pressa? é melhor você aproveitar isso antes que você perca; você tem muito o que fazer e apenas tantas horas em um dia.
você não sabe que quando a verdade é contada você pode conseguir o que quer ou você pode apenas ficar velho? você vai desistir antes mesmo de passar metade do caminho ... quando você perceberá que vienna espera por você?

devagar, você está indo bem, você não pode ser tudo que você quer ser antes do seu tempo embora é tão romântico no limite hoje a noite. tão ruim, mas é a vida que você leva, você está tão adiante de si mesmo que você esqueceu o que você precisa. apesar que você pode ver quando você está errado - você sabe - você não pode sempre ver quando você está certo.

você tem sua paixão, você tem seu orgulho mas você não sabe que apenas bobos estão satisfeitos? sonhe, mas não imagine que eles todos se realizarão. quando você perceberá que vienna espera por você?

devagar, sua criança louca, tire o telefone do gancho e desapareça por um instante. está tudo bem, você pode permitir-se de perder um dia ou dois. quando você perceberá que vienna espera por você?
quando você perceberá que vienna espera por você?

sexta-feira, 7 de maio de 2010

por que eu disse "não"

Eu disse "não" porque não é você.
Eu sinto muito em te dizer, mas é a verdade: não é você.
Não é de você que Luísa vai nascer, não é você que vai comer macarronada comigo aos domingos, não é você que vai me esperar no altar e dizer "eu aceito" olhando nos meus olhos.
Eu disse "não" porque eu não quero isso.
Construir e demolir fantasias requer energias e eu preciso poupar as minhas pras tantas atividades que eu tenho de cumprir todos os dias; eu já não tenho vontade de fingir um sentimento que não me é comum porque eu sei o que isso é [e sei o que isso não é].
Eu disse "não" porque é cedo demais.
Amor não é uma comida congelada e também não se faz em três minutos. Não risque meu papel me pedindo pra "dar uma chance ao amor" porque nem mesmo a paixão aterrizou direito sobre teu peito.
Finalmente: Eu disse "não" por mim.
Porque meu tempo é merecido, eu não preciso provar nada pra ninguém e muito menos pra mim mesma. Eu sou feliz assim e você - por mais que me conheça tão pouco - já sabe disso. Não quero dizer que sou autossuficiente e que você não me acrescenta em nada, não. Mas eu preciso às vezes só de mim e alguém preso a mim me tira esse direito; eu não quero ser responsável por mais um coração partido e também não quero que quebrem em mais um milhão de pedaços o meu.

E eu não estou com peso algum na consciência, não estou achando que perdi uma grande oportunidade e muito menos estou preocupada se você vai insistir e manter sua oferta.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

18 músicas para serem ouvidas num aniversário de 18 anos

1 ~ Live Longe [Kings Of Convenience]
2 ~ She Will Be Loved [Maroon 5]
3 ~ What A Wonderful World [Joe Ramone]
4 ~ Harder Better Faster Stronger [Daft Punk]
5 ~ Not Myself Tonight [Christina Aguilera]
6 ~ For What It's Worth [Placebo]
7 ~ Freedom And It's Owner [Kings Of Convenience]
8 ~ Soul Meets Body [Death Cab For Cutie]
9 ~ Feelin' Good [Muse]
10 ~ Deixe-se Acreditar [Mombojó]
11 ~ Moda de Samba [Velotroz]
12 ~ Revolution [Beatles]
13 ~ Mr Brightside [The Killers]
14 ~ O Vento [Los Hermanos]
15 ~ Pro Dia Nascer Feliz [Cazuza]
16 ~ Roda Viva [Chico Buarque]
17 ~ Você Não Entende Nada [Caetano Veloso]
18 ~ Mademoiselle Marchand [Júpiter Maçã]

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Madrid II

- sem vinganças.
[só puq eu quis.]
- agora, sem vinganças.
puq nós dois quisemos.


e que o tempo diga o que virá ~

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Madrid

- (...) Por exemplo: lá naquela musica de Chico, ele canta "você era a mais bonita ..."
- Das cabrochas desta ala ...
- An?
- Nada, só completei a música.
- Ah sim.
- " ... das cabrochas desta ala" e coisa e tal. Vamos lá: "você era a mais bonita". "A mais bonita" está se referindo a quem?
- A você.
- Oi?
- "A mais bonita"; se refere a você.
- Quem disse isso?
- Eu.
- Você precisa visitar um oftalmologista ur-gen-te.
- Não preciso não. E a senhorita, não tem espelhos em casa não?
- Não, quebraram todos.
- Ih, nem vou discutir isso com você.
- ... Isso, galera! Exatamente: "a mais bonita" se refere a "você". Tão estudando, hein? Que bom!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

my ashtray heart

como fósforo branco: é assim que eu te sinto.
e você sempre veio naquela combustão espontânea e logo em seguida, alternava a propriedade. aquele nosso velho jogo no qual ninguém ganha e, "bravamente", não cansamos das derrotas; é só mais um troféu na estante, um passatempo qualquer feito velho jogo de ligar os pontos. eu te disse tantas vezes pra me queimar de vez e assim você o fez. e queimaduras doem, consomem lentamente, a fogueira de outrora agora era apenas uma chama. uma faísca. uma brasa. apenas uma brasa. e agora aqui, já engolida pelo fogo; é o cheiro de amor queimado que me incomoda. puq hoje eu não sou mais nem fogueira, nem brasa: hoje eu sou só cinzeiro.


i tore the muscle from your chest
and used it to stub out cigarettes
i listened to your screams of pleasure
now watched the bed sheets turn blood red


sábado, 10 de abril de 2010

marching bands of Manhattan

goteiras de tristeza em seu coração por um alfinete
como uma torneira que escoa e há conforto no som
mas enquanto você debate "meio vazio ou meio cheio"
sobe lentamente; seu amor vai se afogar



terça-feira, 6 de abril de 2010

free fallin'

Um penhasco solitário. Vazio. Isolando-me do resto do mundo. Só eu aqui no alto ... E você logo ali, abaixo de mim. ~
Eu fico, daqui de cima, contemplando você. E você, ali embaixo, me atraindo exatamente como um imã; teu sorriso magnetizando meus pensamentos, teus olhos refletidos no vidro me pedindo discretamente para ir além, para permitir esse impulso. E eu me jogo. Mais que cair, eu voo na tua direção sem nem ao menos me certificar de que teus braços estão ali para repulsar qualquer medo da queda; mas são teus abraços que dão aceleração ao meu movimento. É um tempo tão curto até eu chegar ao teu lugar que chega a amedrontar o fato de não ser mais sozinha ...

É, eu estou em queda livre; caindo diretamente em você.

terça-feira, 30 de março de 2010

não perdoa ninguém

Não fui a primeira - nem a única - e infelizmente, também não serei a última.
Homem, homem ... Quer saber?
Você vai caminhar solitário por um bom tempo, vai chegar a um limite insuportável de solidão, vai tentar o suicídio diversas vezes e, sendo bem sucedido numa delas, vai terminar morrendo sozinho num apartamento de terceira, achado três semanas depois parcialmente comido pelos três gatos que vai criar pra tentar derrubar os muros que você ergueu contra as pessoas as quais tentaram te tocar no fundo, as que perderam a graça pra você; pra tentar preencher o vazio do mundo isolado no qual você se trancou.
Você não tem noção do quanto é triste chegar ao fim e, ao olhar pro começo, perceber que tudo poderia ter sido diferente e sequer poder culpar alguém pelo que te acontece [ainda que seja um vizinho, alguém que faça tua comida e limpe tua casa uma vez por semana], exceto você.

Você, que não perdoa ninguém, prepare-se:
NINGUÉM VAI TE PERDOAR.

sexta-feira, 26 de março de 2010

um anjo desconhecido

Havia uma menina sentada na escada, ao telefone, entregue às lágrimas.
Ele subiu os primeiros dois andares pacientemente, embora estivesse atrasado pra aula e de ainda faltar mais um andar pra chegar a sua sala. Ele notou que a menina estava chorando na escada e, num impulso, parou para tentar ajudá-la:
- Você está bem? - ele perguntou, decidindo se colocava a mão no cabelo ruivo ou no ombro da menina.
- Estou sim. - ela olhou pra ele, afastando o celular do ouvido esquerdo.
- Tem certeza? - ele insistiu.
- Não. - ela confessou.
- O que aconteceu?
- Eu acabei de ser assaltada. Reagi e saí correndo. Cheguei aqui sem respirar direito, super nervosa, liguei pros meus pais e agora eu ...
- Está morrendo de medo, não é?
- Muito! Eu não quero sair daqui, eu tô com muito medo!
- Você vem de ônibus?
- Aham.
- Onde você pega o ônibus?
- Lá longe, depois da estação.
- Olha, fica calma. Eu vou procurar algum amigo pra te acompanhar na volta, tá bom?
- Tá bom ... Como é o teu nome?
- Rafael.
- Obrigada.
- Que nada ... Vou procurar alguém tá, fica calma.

Então o menino subiu as escadas e, embora estivesse sozinha, a menina se sentiu rodeada de uma boa energia. Não demorou muito e o menino voltou com um amigo.

- Olha aqui, ele vai te acompanhar quando você tiver que voltar pra casa. Não precisa ter medo, viu?
- Qual o nome dele?
- Bruno.
- Obrigada mesmo, Bruno! Eu tô com tanto medo, tanto ...
- E o teu nome, como é?
- Amanda.
- Amanda, fica tranquila, não vamos deixar você sozinha!
- Ow obrigada, Rafael. Eu tô muito desesperada, desnorteada, não sei direito o que fazer.
- Já bebeu água?
- Não ... Não fiz nada a não ser ligar pros meus pais.
- Então bebe um pouco de água, lava o rosto e se tranquiliza.
- Brigada de novo viu? - ela se levantou, limpou as lágrimas e olhou pra o menino.
- Que nada ... - ele sorriu e esperou ela entrar na sala pra finalmente ir pra sua.

Um dia depois, por um acaso, os dois voltaram a se encontrar nas escadarias.
- Amanda!
- Rafael, pensei em você agora!
- E aí, como tá?
- Tô melhor que ontem ... Queria agradecer mais uma vez. Você foi um anjo mesmo ontem. Se não fosse por você, eu nem sei o que eu teria feito.
- Que nada, Amanda ... Falando nisso, os meninos foram te procurar e não te encontraram ...
- É, a gente se desencontrou. Liberaram mais cedo e eu pensei em poupar eles desse trabalho. Fui com minha fé e com minha coragem e, graças a Deus, ficou tudo certo.
- Que bom então né?
- É ... Agora eu preciso ir e você tem aula né?
- É, até amanhã!
- Até Rafael, se cuida!

Eles continuam se encontrando nas escadarias ...


Este texto é um fato: a vossa escritora sofreu uma tentativa de assalto na última quarta-feira [24] mas, graças a Deus, tudo está bem; ela saiu ilesa - sem um arranhão - e nada foi levado. Mas, todos que a conhecem o suficiente podem afirmar que a primeira reação dela pra TUDO é chorar e, depois desse choque, não foi diferente. Então, eu gostaria de dedicar este texto a Rafael: um menino sobre o qual desconheço quantos anos tem, onde mora, o que faz da vida, que vestibular vai prestar final do ano ... enfim, desconheço tudo sobre sua vida; exceto o nome, o nome de um amigo e a bondade imensa que ele abriga dentro de si. Rafael, agradeço por me ajudar e me acalmar quando eu precisei, apesar de eu ser uma completa desconhecida pra você. Saiba que você foi [e está sendo] um anjo pra mim e eu nem preciso conhecer mais a teu respeito pra manter esse conceito. Mais uma vez: OBRIGADA!

quinta-feira, 18 de março de 2010

"continuo a pensar
que quando
tudo
parece
sem saída,
sempre se pode cantar:
por essa razão escrevo.

pra sempre meu, caio f ♥

sábado, 13 de março de 2010

sua majestade, o tempo IV

já lhe dei meu corpo, minha alegria
já estanquei meu sangue quando fervia
olha a voz que me resta:
olha a veia que salta
olha a gota que falta
pro desfecho da festa
por favor ...

deixe em paz meu coração
que ele é um pote até aqui de mágoa
e qualquer desatenção, faça não
pode ser a gota d'água
pode ser a gota d'água
pode ser a gota d'água

e foi a gota d'água ...

... e o último da série.

sexta-feira, 12 de março de 2010

sua majestade, o tempo III

Amor.
Continuar conversando durante horas todos os dias, mensagens durante a madrugada, assumir pra nós mesmos e pro mundo inteiro, jantar de noivado, fotos, convites, cerimônia de casamento, lua de mel em Paris, trabalho, sucesso, casa de campo com um jardim enorme, filhos, sábado com os amigos, domingo num tradicional almoço com todos os familiares, férias em família na praia, contos de fada pra Luisa antes dela ir dormir, surpresa nos aniversário de casamento, aposentadoria, mais viagens, algumas brigas e muitas reconciliações, felizes para sempre, para sempre:
puq você quer deixar tudo isso pra depois?

sexta-feira, 5 de março de 2010

monogamia

Você sabe como se dá a reprodução dos pinguins?
A maioria das espécies é monogâmica. Todavia, em alguns casos podem existir copulações extra-par, em que o macho pode ficar com até duas fêmeas e a fêmea com até três machos quando o companheiro se afasta. Mesmo nestes casos, é o companheiro “oficial” que auxilia chocando ovos, cuidando e alimentando os filhotes e defendendo o território. Os indivíduos sempre retornam para a mesma área de reprodução e muitas vezes eles reencontram o mesmo parceiro de anos anteriores. Alguns estudos indicam que o pinguim-de-adélia reencontra o mesmo par no ano seguinte em 62% das vezes, o pinguim-antártico em 82% e o pinguim-papua em 90% das vezes.
Curiosamente, para estas espécies, é usando pequenos pedregulhos que o macho conquista sua fêmea: ele fica na área do ninho segurando a “pedrinha” com o bico e oferece para a fêmea. Se ela aceitar, pronto: estão casados. É como se fosse uma troca de alianças entre os noivos. [...] Os ninhos são eqüidistantes, ou seja, a distância entre eles é a mesma, cada um respeita o território do vizinho ou então pode levar uma bicada.
fonte: http://ciencia.hsw.uol.com.br/pinguim4.htm



Passo longe de pertencer à mesma espécie que os pinguins, mas não me importaria em ter você assim, como pinguim. Ofereça-me uma pedrinha em nome da nossa paixão, case-se comigo! Vá para longe, encontre outras fêmeas mas seja um papua, me encontre nesses 90%, volte pra mim no ano seguinte. Seja o meu oficial, choque o nosso ninho, alimente nossos filhotes e afaste todos os outros que ameacem o teu território ...
Que seja esta nossa monogamia particular, meu bem;
mas que seja monogamia
.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

sua majestade, o tempo II

E é como se os anos adiantes tivessem feito uma longa viagem do tempo pra vir me cumprimentar. Não temo o que aconteça daqui pra frente, pois já sei o que me espera assim que eu contornar aquela esquina do imediato, assim que eu chegar ao final dessa estrada. Não importa que ainda falte muito tempo para acontecer - de fato - o que já está acontecendo; tampouco enjoarei disto que afirmo ser a felicidade.
Quem se atreverá a me impedir de viver o futuro agora e outra vez depois?

sábado, 13 de fevereiro de 2010

sua majestade, o tempo

Alguns minutos de espera, um dígito desconhecido e - com uma certa prontidão - um adeus definitivo à minha solidão noturna.
Engraçado esse tal de tempo, que rouba todas as minhas frases prontas e me obriga a admitir tudo que eu quis esconder um dia, que me tirou de rainha e tomou o trono pra si. E eu me sentia como uma criança voltando à casa que cresceu na infância, onde caiu e ganhou sua primeira cicatriz. Como era estranho ouvir aquele som que eu conhecia mas não tinha contato há tanto tempo ... Estranho e bom, era um alívio levemente misturado com um medo e juntos, eles corriam dentro de mim e inundavam cada cômodo meu com uma certeza: estava acontecendo outra vez.
Cada segundo escorria das mãos como sempre escorreu; algumas suspresas, coisas inesperadas e o céu escureceu. O tempo era pouco, muito pouco, sempre foi assim: pouco. Entretanto, parecendo ter posse de todo o tempo do mundo, você estava ali. Um minuto a mais, um desejo diretamente proporcional. Ainda houve aquela parte em que eu pude escolher ir para o outro lado mas alguma coisa dentro de mim pulsou e eu percebi que não conseguia resistir a você, logo a você que morou em mim durante tanto tempo. Algo gritava cada vez mais alto por você e eu só consegui silenciar minha vontade depois de sentir tuas mãos no meu corpo, tua alma inteira colada à minha. E como foi agradável a sensação de te ter, poder apreciar teu gosto que, apesar de tanto tempo sem provar, ainda não tinha sido esquecido pelo meu paladar. Eu confesso: é cada vez mais doce a sensação de poder ter de volta os melhores anos que eu vivi. É aquele tal cumprindo sua missão fazendo-nos realeza outra vez. Todo o tempo do mundo pra nós dois hoje.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

adeus II

Meu coração morava numa fogueira, sempre naquela velha dor que queimava lenta e eu pedi tantas vezes pra que doesse de vez que, quando o dia chegou, eu quase não suportei. Quase. Resolvi meus desafetos e ignorei falsas preocupações de dias depois; tenho vivido feliz até hoje as horas que você havia roubado de mim.
Hoje decidi - pela primeira vez - abrir nosso baú do tesouro que ficou lacrado durante todo esse tempo: li cada palavra das tuas frases feitas, das nossas noites perfeitas, as juras de amor ao som das tuas músicas preferidas e todos os planos de me raptar e vivermos felizes para sempre ... E, para a minha surpresa, nenhuma gota de água salgada escorreu dos meus olhos. Partindo pra outro local sagrado, precisei deletar todos os vestígios da nossa falsa paixão e eu sorria a cada nova frase, sorria como uma criança quando ganha uma linda boneca nova. Então, descobri que não havia ódio, raiva ou qualquer sentimento negativo por você, mas o contrário: eu me vi feliz, relembrando nossas bobagens e nossos segredos mais profundos, pensando que talvez nós poderíamos continuar sendo invencíveis, como eu julguei um dia.
Olhando para trás, hoje eu enxergo que os outros deixaram nosso castelo intacto. Lamentável mesmo foi nossa decisão de derrubar cada bloco, fazendo questão de nos destruir. A verdade é que eu sinto falta daquela pessoa que me prometeu sua infinita amizade e é por isso que eu te agradeço cada segundo que você pode me fazer sorrir, até mesmo quando não estava mais ao meu lado.
Obrigada por tudo, meu amigo!


10/12/2009; 02:33h am.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

a flor

Doi olhar todas aquelas velhas lembranças e pensar que o que foi não é mais; é um pedaço seu em cada foto, cada música, cada mensagem, cada partícula sub-atômica que me compõe. Eu sei que fiz tudo que pude por você: te reguei, te adubei, te fiz crescer, te protegi dos bichos, te dei a luz do Sol ... você cresceu, desfincou as raízes e se plantou num jardim que está fora do meu perímetro de domínio. Talvez o que machuca mais não seja nem o arrependimento por eu não ter sido capaz de mantê-la aqui, e sim te ver cada vez mais distante, respirando um ar de indiferença que nunca foi direcionado pra mim. Como é doloroso, amiga, olhar pro horizonte distante e perceber que não é você ao meu lado compartilhando aquela visão comigo; saber que você dispõe de tempo pra todas as suas atividades obrigatórias e nenhum segundo para a sua velha [ex- melhor] amiga; olhar todos aqueles serem chamados por apelidos carinhosos e não ouvir uma palavra sequer pra mim ... Por algum tempo eu me culpei, acreditei que todos os erros vieram de minha parte - ainda que sem intenção - e corri, corri por uma estrada da qual você já tinha saído e parece não pretender voltar. Eu gosto de pensar que um dia foi você quem me completou, mas como é difícil admitir pra mim mesma que esse tempo não vai voltar! Como doi no meu peito essa sensação de que morri tentando e ainda assim não pude obter o resultado que eu queria ... Rasga minha alma em mil fragmentos ter a certeza de que você fez a tua escolha e - infelizmente - eu não faço mais parte dela. O jardim ainda está lá, com seu espaço reservado (como sempre esteve) esperando que você volte ou pelo menos devolva um pouco de cor àquilo que um dia foi seu lar, mas eu penso: cansei dessa brincadeira. Pior que plantar flores sem água é regar uma que já morreu.


ouvi dizer do teu olhar ao ver a flor
não sei puq achou ser de um outro
rapaz; foi capaz de se entregar.
eu
fiz de tudo pra ganhar você pra mim

mas mesmo assim
minha flor serviu pra que você achasse
alguém; um outro alguém que me tomou
o seu amor. eu fiz de tudo pra você perceber
que era eu ...


sábado, 23 de janeiro de 2010

anônimos

Oi, meu nome é Amanda e eu estava sóbria há 2 meses e 10 dias.
Continuei com meus hábitos, todos muito normais, até que percebi que havia me restado pouco puq eu fiz questão de deixar tudo pra trás. Tentei ainda resgatar fiapos daquilo que eu considerava meu, mas entendi que nada que eu possuia era, de fato, domínio meu.
Então, eu precisei daquilo novamente: voltei ao primeiro passo, como quando comecei isso tudo e lá vi minha garrafa preferida, cheia de frases prontas para serem degustadas e apreciadas. Recolhi minha taça - suja e esquecida no fundo da pia desativada - limpei todos as letras que ainda restavam nela, as que não alcançaram a minha língua e então, preenchi o vazio do vidro da taça deixando um pouco mais vazia a garrafa que estava ali, tão parada há tanto tempo.
Antes de levar o copo à minha boca, eu hesitei. Eu ainda podia negar que eu tinha vontade de fazer aquilo, podia quebrar tudo aquilo em pedaços razoáveis para não sobrar lembranças mas era uma vontade quase que incontrolável. Ali estava, o copo cheio, na minha frente. Era mais fácil do que eu imaginava, era apenas um movimento, um gole e tudo estaria de novo como sempre foi. De repente eu vi que eu tinha que me submeter àquilo; que eu necessitava desesperadamente me render àquela que eu sempre fui, cheia de textos na boca, sempre cuspidos com fúria ao chão. Não fazia mais sentido em não tomar toda aquela taça se ambas estavámos ali, prontas para isso. Então, foi-se o primeiro gole. E o segundo. E o terceiro. E em instantes, o copo inteiro. Bebi tudo que eu podia e não me arrependo do meu porre constante. Afirmo, sem culpa: cá estou eu, de volta, cuspindo e vomitando todas as palavras que estiveram presas outra vez, entregue à doce embriaguez da escrita; que é o que eu sempre fiz.



pois, espalhem:
O ÉDEN ABRIU OS PORTÕES


~ dedicado a Rafael (L)