sábado, 31 de março de 2012

Só pro meu prazer

Eu vestida quase nada, vestia o sorriso dele enquanto ele se aproximava. Eu construía a minha melhor personagem sob estranhos olhos azuis; ele oferecia o seu melhor em troca dos pensamentos que ele nunca poderia saber e eu não dizia e ele externava de mim aos beijos tudo que eu desejava. Eu mentia o tempo inteiro mas era tudo real nas minhas mentiras. A boca que dizia me odiar me devorava loucamente no segundo seguinte. E o tempo passando para todos naquele pequeno mundo nosso. No espelho, o abraço dele, meus cabelos e nosso reflexo finalmente tranquilo. E depois e depois e sempre recriando a cena de nós dois na minha mente. As antigas, as desejadas, as próximas. Nós dois, só pro meu prazer. Tudo isso para você saber que eu estou vivendo, afinal.

domingo, 25 de março de 2012

Se eu soubesse

eu vestia a mesma camisa - flores estampadas sobre o luto - e ele trazia no peito aquela cidade que eu queria inundar. como no começo, só que por fim. o samba que bate em meu peito são apitos, buzinas - o som que sua presença fez calar. dói. fita cassete rebobinada com uma caneta bic, volto seis casas pro inicio do jogo. é a dor deste cheque, daqueles olhos no tabuleiro enquanto os meus pousavam naquelas mãos, de um outro cheque que não doía porque havia um rei. minhas flores sobre o luto são guirlanda sobre cova. sobre cama. sobre pena. era sobre isso e nada além, por isso dói. eu vestia quase nada ou nada, vestia sua pele, suas palavras, seus amigos e o nome que ele me deu pra que eu fosse sua. eu vestia a mesma camisa, hoje eu visto milhares de panos, caimentos loucos, cores, texturas, enchimentos. eu estou vazia.



COPIADO DESCARADAMENTE DE RAISA ANDRADE: www.deusamenina.blogspot.com

domingo, 18 de março de 2012

Eu nem vi

Ele me encontrou. E digo assim porque talvez eu estivesse perdida no caminho. No caminho que pertence a ele, afinal. Me chamou com um dos dedos e eu pensei que talvez ele tivesse algum comentário a fazer. Mas não, ele nunca me diz nada. Ele se virou diante de mim. Me olhou, me a-na-li-sou assim, pausadamente, como minha respiração ansiosa. Passou uma das mãos nos meus cabelos soltos, brincou com minha orelha e riu de mim. Ele sempre ri de mim. Encaixou as duas mãos em meu rosto e direcionou meus olhos aos seus. Me olhou de novo assim, de perto, sério. Tão sério ... Aproximou os lábios dos meus e então disse que não podia mais esperar: ele me beijou.

terça-feira, 13 de março de 2012

Não

- Você não é mulher pra mim. - ele disse.
- Mas que absurdo! - ela respondeu - Eu sou mulher e isto basta!

quarta-feira, 7 de março de 2012

Não há nome para todos os sentimentos do mundo.

Teu coração pendurado ao meu pescoço. Aperto-o com força contra o peito, tua imagem na minha mente faz meu coração descompassar mas eu estou bem. Liberto todos os sentimentos presos por tanto tempo, eu já não tenho medo, eu já nem lembro tua voz. Eu estou bem, muito bem. Disco teu número vez em quando, não ligo. A vontade que tenho de lhe ver é semelhante a que tenho de ficar velha ... Devoro tuas poucas palavras e vomito - logo em seguida - todas elas. Tudo que há é esta urgência e essa tua falta que preenche cada canto vazio e esse silêncio que só eu escuto, afinal. Eu só quero que você se encontre sem que eu me perca numa resposta para nós dois. Desisto, eu estou bem. Mas é só enxergar você e eu já hesito em pronunciar teu nome; há um medo incomum em lhe chamar, há um receio em ter você aqui. Eu lhe quero. Não há nome para este sentimento. Não é amor: é pior.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Apelo

Venha logo. Eu te preciso agora, com uma urgência tão absurda ... Eu já não sei o que há em volta porque esperar é tudo que faço. Eu grito insistentemente o teu nome e você não escuta nada além de alguns sussurros. Continuo reunindo todos os teus pedaços deixados para trás e montando teu esqueleto. Frações do teu novo eu me alcançam através das poucas palavras e eu as reencaixo na esperança de montar teu corpo. Modelo, adequo, respiro: é você vivo, então. Mas é calado, distante, diferente. Um erro honesto que cometi. Eu preciso me consertar também.