domingo, 27 de julho de 2008

sorvetinho no inferno

eu quero que tu vá me pegar às 6h.
eu estou cega temporariamente, então
me guie pela cidade que eu desconheço.
me deixe leve, leve ... me leve, me leve até o inferno ~
eu sinto frio, aqui faz frio - me aqueça.
e se for pra te deixar, que eu te deixe em mim. dentro de mim.
eu quero queijos e chocolates. canalhas, cachorros
[quentes] e molhos de tomate.
eu quero congelar o inferno. eu quero esquentar você.
e se tu é o inferno inteiro, eu prefiro nem saber o que é o sorvete!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

domingo, 20 de julho de 2008

adeus

e é só isso que eu tenho pra dizer:
vou-me embora, fui-me embora!
Flávio ♥ me espera. Porto Alegre me espera. Júpiter me espera. ~
agora digo 'oi' aos meus [novos] planos,
ao meu [novo] futuro ...
oi pra federal de RS, oi pra minha filha loira
dos olhos castanhos.
oi pra minha musica, oi pra minha história.
oi pra tudo que eu sempre desejei!
acabei. abandonei os fardos e os ressentimentos do passado.
chega de permanecer aqui, estática.
vou-me. fui-me.
adeus.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Gabriel de Britto Velho diz:

apaga o cigarro
no peito /
diz pra ti
o que não
gostas de
ouvir / diz tudo .
- isso é escrever ... tirar sangue com as unhas.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

que nem zézim ...

você me pergunta: que que eu faço?
não faça, eu digo. não faça nada, fazendo tudo, acordando todo dia, passando café, arrumando a cama, dando uma volta na quadra, ouvindo um som, alimentando a pobre. você tá ansioso e isso é muito pouco religioso. pasme: acho que você é muito pouco religioso. mesmo. você deixou de queimar fumo e foi procurar Deus. que é isso? tá substituindo a maconha por Jesusinho? zézim, vou te falar um lugar-comum desprezível, agora, lá vai: você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. e você sabe disso. o caminho é in, não off. você não vai encontrá-lo em Deus nem na maconha, nem mudando para nova york, nem ... você quer escrever. certo, mas você quer escrever? ou todo mundo te cobra e você acha que tem que escrever? sei que não é simplório assim, e tem mil coisas outras envolvidas nisso. mas de repente você pode estar confuso porque fica todo mundo te cobrando, como é que é, e a sua obra? cadê o romance, cadê a novela, cadê a peça teatral? DANEM-SE, demônios. zézim, você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheria esse oco. não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. o que tem é uma questão de honestidade básica. essa perguntinha: você quer mesmo escrever? isolando as cobranças, você continua querendo? então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito / diz pra ti o que não gostas de ouvir / diz tudo". isso é escrever. tirar sangue com as unhas. e não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. mas tem que sangrar. mas tem que sangar a-bun-dan-te-men-te. você não está com medo dessa entrega? porque dói, dói, dói. é de uma solidão assustadora. a única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. essa expressão é fundamental na minha vida. eu conheci razoavelmente bem Clarice Lispector. ela era infelicíssima, zézim. a primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, puq ela inteirinha me doía, puq parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo. te falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literariamente falando. e morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida”. puq se entregou completamente ao seu trabalho de criar. mergulhou na sua própria trip e foi inventando caminhos, na maior solidão. como Joyce. como Kafka, louco e só lá em Praga. como Van Gogh. como Artaud. ou Rimbaud.é esse tipo de criador que você quer ser? então entregue-se e pague o preço do pato. que, freqüentemente, é muito caro. ou você quer fazer uma coisa bem-feitinha pra ser lançada com salgadinhos e uísque suspeito numa tarde amena na cultura, com todo mundo conhecido fazendo a maior festa? eu acho que não. eu conheci/conheço muita gente assim. e não dou um tostão por eles todos. a você eu amo. raramente me engano. zézim, remexa na memória, na infância, nos sonhos, nas tesões, nos fracassos, nas mágoas, nos delírios mais alucinados, nas esperanças mais descabidas, na fantasia mais desgalopada, nas vontades mais homicidas, no mais aparentemente inconfessável, nas culpas mais terríveis, nos lirismos mais idiotas, na confusão mais generalizada, no fundo do poço sem fundo do inconsciente: é lá que está o seu texto. sobretudo, não se angustie procurando-o: ele vem até você, quando você e ele estiverem prontos. cada um tem seus processos, você precisa entender os seus. de repente, isso que parece ser uma dificuldade enorme pode estar sendo simplesmente o processo de gestação do sub ou do inconsciente. ler, ler é alimento de quem escreve. várias vezes você me disse que não conseguia mais ler. que não gostava mais de ler. se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? ou escreva então para destruir o texto, mas alimente-se. fartamente. depois vomite. pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. pode sair até uma flor. mas o momento decisivo é o dedo na garganta. e eu acho — e posso estar enganado — que é isso que você não tá conseguindo fazer. como é que é? vai ficar com essa náusea seca a vida toda? e não fique esperando que alguém faça isso por você. você sabe, na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente. ou então vá fazer análise. falo sério. ou natação. ou dança moderna. ou macrobiótica radical. qualquer coisa que te cuide da cabeça ou/e do corpo e, ao mesmo tempo, te distraia dessa obsessão. até que ela se resolva, no braço ou por si mesma, não importa. só não quero te ver assim, engasgado, meu amigo querido ...





tô bem assim, que nem zézim ~

quinta-feira, 3 de julho de 2008

selada!


o príncipe hipocondríaco acaba de me passar o selo e, junto com o mesmo, me mandou escrever a 5ª frase da página 161 do livro mais próximo. meu livro mais próximo me disse:
'tinha algo que eu precisava saber, respirei fundo para encontrar coragem'.


terça-feira, 1 de julho de 2008

as tortas e as cucas'

senti meu corpo derretendo! flutuou
minha mente, compreendendo.
falei com minha sombra, tem vida própria
sim
abrindo as tortas e as cucas.
gentilmente sentei na pedra. tornei-me
parte desta pedra.
ninguém me compreendia, nem
nada
que eu fazia. os passarinhos me acalmaram.
foi quando então eu
percebi, eutava no meu guarda-roupa.
em posição fetal, achando tão normal
rolando um flashback maternal.
abrindo as tortas e as cucas ...





'ir e não voltar é conhecer outro lugar. ir e não voltar é conhecer outro lugar. ir e não voltar é conhecer outro lugar.'