quinta-feira, 31 de maio de 2012

Me faz ficar bem mais

Eu vou te misturar com água e te moldar feito argila, maleável ao toque morno. Vou arar você, meu terreno, arrancar as ervas daninhas (e os clichês), eu vou te escriturar em meu nome. Eu vou desenhar minhas sílabas pelas suas pernas, sonetos inteiros, minhas digitais em suas costas, vou cravar meu nome à unha, vou pintar seus lábios com o batom dos lábios meus. Eu vou te criar de uma costela minha e te botar pra crescer à minha beira, comer da minha comida, aprender o meu idioma, respirar o que eu deixar. Eu vou te cantar as minhas canções e as canções que já são suas eu vou guardar pra mim, pra cantarolar pela estrada e lembrar da tua pele morena, dos teus cabelos, da tua beleza indo embora, do prefácio do teu gosto ficando em mim.


eu vou despir a alma e afogar a calma
SALIVANDO UM BEIJO TEU.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Voltar ao início

Abandonaria as peças. Refaria as regras. Eu voltaria ao início do jogo. Não fingiria não saber tuas intenções. Eu desvendaria teu olhar tímido, teu sorriso bobo ao me ver e todos aqueles dircursos usados para prender a minha atenção a você. Eu não sabia. Eu deixaria para trás toda aquela inocência fingida e me lançaria de peito aberto a qualquer lugar em que você fosse reinar. Deixaria tua mão escorrer calma entre meus cabelos e não perguntaria "por que você me olha desse jeito?" pra mim mesma toda vez que aquelas lentes encaravam minhas pupilas. Daria ouvidos à tuas palavras. Daria-me por completo. Te amaria desde o primeiro instante. Eu quero voltar ao início quando o jogo chegou ao fim para nós.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Inconsequentemente

Estava presa há tanto tempo que sequer se lembrava do que precisava se libertar. Um dia, finalmente, criou coragem: arrancou as cordas que a prendiam, acendeu as luzes, abriu as cortinas, deixou portas e janelas abertas (pra sorte entrar, certamente) e saiu sem rumo pela vida. Enxergou as ruas, as cores, as pessoas e o que elas estavam dispostas a fazer por aquela criatura que havia parado no tempo. Só então entendeu: ela estava adiando tudo que precisava viver em nome de uma lembrança que jamais seria vivida novamente da maneira que ela havia guardado pra si. Levou tanto tempo presa à uma lembrança - agora, já quase completamente apagada - que não se permitia viver. Daí deixou a lembrança para só lembrar mesmo e foi viver tudo que ainda estava pendente. Incorporou a inconsequencia para si e vivendo assim, inconsequentemente, correndo contra o tempo e afastando a monotonia dos teus dias, ela estava feliz. Ela é feliz.