domingo, 23 de janeiro de 2011

réquiem para um sonho

02:57h. Meus olhos, donos de si, abriram-se por conta própria e me forçaram a tentar enxergar, naquela escuridão da madrugada, algo que eu não veria na claridade. Sem sucesso, apostei desta vez tentar sonhar com o sonho que anda dominando a minha mente ultimamente e, encorajada pelo frio, puxei um pouco mais de cobertor, fechei os olhos novamente e dormi. Não dormi. Meus olhos abriram-se de novo e pediam mais calma dessa vez. Olhei no relógio do celular, escondido sob meu travesseiro - 03:02h. Talvez se eu deixasse meus olhos falar o que tanto desejavam ... E assim permiti que eles me guiassem. Me mostraram as outras pessoas que dormiam seus sonos profundos e cansados, insetos voando pelo meio da noite, uma luzinha fraca vinda da varanda que insistia em romper o escuro total. 03:11h. Então agora era finalmente a hora de voltar para meu abrigo. Não? Não. Mais uma vez, olhei o horário no celular e não consegui acreditar: eu simplesmente não conseguia dormir! Virei meu corpo - aliás, é apenas o que eu lembro de ter feito durante toda a noite - em busca do meu sono perdido mas ele havia se escondido de mim. 03:52h. Começou uma chuva boba lá fora, mas os sons estavam tão altos aos meus ouvidos ... Escutei cada pingo d'água cair sobre a terra e deixar sua marca, o vento trazendo a chuva pra mais perto, mais perto, perto demais e então pra longe, longe, bem distante. 04:29h. Por que eu não posso dormir? Por que não consigo? Num enforço tremendo, fechei os olhos e minha mente tomou conta do resto da madrugada. Refiz meus planos, pensei nas minhas pessoas, escrevi muitas cartas mentalmente e enviei-as para aqueles que eu desejei. Mas, ainda assim, eu sentia as horas passarem devagar. 05:58h. Foi quando desisti de tentar me forçar a sonhar e comecei a ouvir alguns sonos; eram outras pessoas acordando de um sono que eu não tive. Eram 06:02h quando eu dormi.


Do outro lado da cidade, havia um homem usando o álcool como anestésico durante toda a noite. Sem sucesso, ele - já embreagado - decidiu então contactar quem tanto lhe fazia falta.
A mensagem foi entregue às 6h.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

menina deusa

Era um local vazio e cinza. Eu nunca entendi como fui parar ali, mas quando percebi, eu já estava sentada num dos muitos bancos daquele lugar, debaixo de uma grande árvore que me fazia sombra enquanto as nuvens invadiam o espaço e desbotavam a cor azul do céu. Pouco a pouco, fui vestindo um casaco na esperança de que aquele vento forte não me tirasse da pele o calor e recolhendo os pés descalços pr'aquela água imunda do chão não me contaminar. Quis observar o céu e, para minha surpresa, algo estranho se montava diante de mim: tudo estava escuro agora. Inutilmente, tentei a proteção com algumas folhas jogadas ao chão, mas alguns pingos d'água caíam sobre meu rosto e - em pouco tempo - eu já estava completamente encharcada; rosto, cabelos, roupa, pés descalços, tudo! Alguns trovões me avisavam da permanência da chuva ali e eu aflitamente apenas me recolhi entre os braços para que nada mais me atingisse. Esperei algum tempo ali, não lembro ao certo quanto, mas aos poucos aquela tempestade foi se desfazendo e abrindo caminho à uma entidade que enxeu os meus olhos. Ali, caminhando ao meu encontro, eu avistava uma criatura cuja luz afastava as nuvens negras e permitiam ao Sol, novamente, o seu papel principal. Só então eu consegui ouvir o som das nuvens se afastando e do claro azul celeste de volta ao meu céu. Já próxima a mim, aquela que parecia ser a menina saída das águas, tocou meu rosto, limpou a única lágrima que eu derramei e num gesto simples, abraçou-me e - com seu calor - secou todas as minhas roupas, corpo e principalmente a alma. Finalmente, entreguei-me ao teu abraço e assim ela sorriu para mim como quem diz "calma, criança. eu já estou aqui para te salvar". E assim foi. E assim está sendo. E assim será, até o fim.

à Raisa, minha deusamenina: há tempos eu quis novamente escrever sobre você; porque nunca saberei como agradecer a todos os momentos em que você esteve ao meu lado, porque sou tua obra-prima confessa, porque senti saudades, porque você sempre vai merecer. Obrigada por tudo ... Como SEMPRE foi.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

réquiem para um amor

Não sei o que você esconde os ouvidos sobre as mãos enquanto eu continuo gritando baixo na tentativa de você me escutar.

sábado, 8 de janeiro de 2011

entrada pela porta da frente

Penso que demorei muito a voltar; talvez puq os planos não estivessem todos prontos logo ao primeiro de janeiro. Mas hoje - uma semana depois - as coisas já tão bem articuladas e posicionadas tomam suas respectivas formas e recomeçam o que deve ser aquilo que de melhor que nos espera. Mas eu, marcada pelo tempo, já não acredito em recomeços. Eu só confio nas continuações. As pontas dos meus dedos não traçam meus pensamentos à letra pela primeira vez mas continuam a manchar o papel com todas as minhas ideias batidas de tanto tempo atrás. Confesso que há algo irresistível no "novo". E cá entre nós, sobre irresistível eu entendo. Entendo ... e realmente não resisto.

que venha 2011, amém.

domingo, 2 de janeiro de 2011

para Caio F, com amor

Meu amor, que saudade!
Parece séculos desde a última vez que nos vimos, não é? Eu recebi tua carta ontem, decidi responder logo - antes que eu esqueça que estou num lugar diferente - e aproveitando que tenho tantas coisas pra te contar. Então te prepara, pega uma água e vamos porque vai ser longo ...

Aqui tem uns lugares lindos! Ontem conheci um lago que se parecia muito contigo, pensei em você. Batizei-o secretamente de "Lago Caio F" em tua homenagem; sei que parece meio louco, mas desde a nossa despedida, tu não sai do meu pensamento. Enfim, depois bebi umas coisas e vim dormi (foi quando vi tua carta recém chegada no chão) e deixei pra ler hoje porque eu não estava em condições dignas de te escrever.