quarta-feira, 21 de maio de 2008

hoje o dia não tem azul

eu nunca percebi o quanto essa cidade chove, embora meu pai tivesse me aletado sobre isso. ainda mais agora, no outono, é quase regra cair pelo menos um pingo d'água todos os dias nessa cidade. e se não chove, as nuvens tomam conta do [meu] céu, antes azul.
eu estava no caminho de volta pra casa. inclinei minha cabeça para observar o céu pela milésima vez naquele dia. notei algumas nuvens que se aproximavam dessa cidade, mas estavam do lado contrário do qual se encontrava o Sol; não dei tanta importância. mas as nuvens pareciam me seguir. cada segundo na estrada era como um caminho que eu estava traçando para elas, como uma linha pontilhada que elas completavam anciosamente com toda aquela densidade...
nossa, como aquelas nuvens estão negras!...
fui chegando em casa. nessa cidade, as nuvens pareciam ter dominado todo o espaço! ou o céu, de repente, passara a ser branco! branco não, preto! comecei a sentir pavor. nunca escondi pra ninguém o meu terrível medo de raios, relâmpagos e trovões, mas sempre achei ter aprendido a conviver com isso enquanto fui crescendo. o fato é que eu me enganei, e sempre quando nuvens como essa se instalam nessa cidade, eu podia ter certeza que o medo ia crescendo de novo dentro de mim. droga, eu precisava compras umas coisas na rua. como eu ia chovendo? como eu ia chovendo E trovejando?
- não vai chover.
como não? será que ninguém estava vendo aquele céu p r e t o? será que ninguém percebeu que seria uma chuva DAQUELAS? cheguei em casa. 16:30h, estava começando My Wife and Kids, já era um pretexto pra eu pegar no sono e não ser forçada a vivenciar aquele espetáculo que todo mundo acha o máximo, mas eu acho aterrorizante! não consegui pegar acidentalmente no sono, levantava o tempo todo pra ver se o aspecto do céu tinha melhorado, ou se ia começar tudo. tudo estava coberto e preto, mas não caia uma só gota de água. e continuou assim. decidi enfrentar o meu medo e sair. peguei a chave, um guarda-chuva (que não seria suficiente pra conter meu medo dentro de mim caso começasse a trovejar enquanto eu estivesse atravessando a rua, por exemplo) e sai. odeio sair com guarda-chuvas, sempre me são inúteis, e foi mais uma vez. só percebi que tinha anoitecido de verdade quando meu relógio apontou às 19h, puq antes já estava escuro. olhei para o céu de novo, e ele não estava vermelho (como deveria ficar se fosse chover ou trovejar). voltei pra casa, fiz o que tinha que fazer e esqueci a paranóia de ir de dez em dez minutos olhar se vai chover ou não... e até agora eu espero a água que não não chegou no asfalto dessa cidade... pois é: não trovejou. não choveu. nem sequer chuviscou.


assim é com o tempo: planejamos e tentamos manter o futuro intacto que esquecemos daquele momento, daquelas nuvens que estão correndo ali, agora! nos preocupamos demais com o que ainda está por vir, do que com o que está passando. e eu não quero mais perder tanto tempo assim; não quero mais ser assim.

5 comentários:

Rα i sα ~ disse...

a chuva lava e o vento seca,
e, quanto a raios e trovões,
são só as nuvens se esbarrando
enquanto dançam ...
assim, simples e poético.

eu perdi o meu medo da chuva

Rα i sα ~ disse...

e você agora está nessa cidade,
aqui onde o céu desaba com doçura ~

bruna disse...

"assim é com o tempo: planejamos e tentamos manter o futuro intacto que esquecemos daquele momento, daquelas nuvens que estão correndo ali, agora! nos preocupamos demais com o que ainda está por vir, do que com o que está passando."

a parte mais sábia. esse conto teu mudou um monte de coisas que eu tava pensando hoje, acho que me ajudou muito. irmã quero converssar contigo, me manda uma cartinha, pode ser até dizendo: 'oi'

te amo muito!

Victor Moraes, disse...

se o passado não é intacto, quem dirá o futuro.

Dan Souza disse...

e eu não aprendo!!!
s eu não tiver o que planejar eu morro!!!
Por isso eu vejo meus planos irem por água abaixo o tempo todo...