sexta-feira, 13 de novembro de 2009

inefável II

- Não podemos continuar assim. Desse jeito, não duraremos muito tempo mais.

As lágrimas teimavam em escorrer pelo rosto dela, já borrado pela maquiagem barata. Ele sentiu a rispidez de sua frase e tentou apaziguar os ânimos num abraço quente, que era sua pele queimando. Ela notou o fogo que ardia nos braços dele e não pode evitar de se deixar queimar: cada polegada de sua pele foi sendo consumida rapidamente, comparável a um desejo que apenas os solitários e viciados sentem em suas angústias intermináveis. De repente, o chão daquela casa abandonada - refúgio dos amores secretos - era maior que qualquer fogueira santa da inquisição católica. Ele deslizou suavemente as mãos pelas costas dela, subindo logo em seguida com arranhões que a fizeram sentir arrepios profundos. Um beijo e então ela deitou-se novamente; sabia que era inútil conseguiria resistir àquelas mãos e muito menos àquele toque. Ele riu cinicamente e continuou seu trabalho silencioso: desabotoou o que sobrava da roupa dela e, levemente, tocou cada centímetro do seu corpo - agora despido completamente - ouvido os sussuros, os quais pareciam preces de alguém prestes a se deparar com a morte. Logo veio a sua condenação. Ele sabia exatamente o que precisava fazer ... e fez. E ela sabia exatamente o que ele iria fazer ... e não impediu. As mãos dele passavam, quentes, e ela quase implorava pra que não esquecesse daquele momento. Eles se amaram no chão frio daquela casa abandonada durante minutos preciosos que os dois recordariam eternamente.

- Eu não quero te perder.

Ele voltou a sentar-se e acendeu um cigarro, ao mesmo tempo em que observava minusiosamente o corpo dela, que agora - e sempre - era dele. Num tom envergonhado, ela tentou agradecer pela sinceridade, mas ele interrompeu sua voz.

- Eu te amo. Não permito que você me perca.

O cigarro apagou; os amantes continuavam acesos.

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